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POS-MORALES

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Neste domingo, cerca de 6,5 milhões de bolivianos irão às urnas para dizer se querem ou não uma reforma constitucional para permitir que o presidente Evo Morales dispute mais um mandato na eleição de 2019.

Evo, de 56 anos, foi eleito pela primeira vez em 2005 e está cumprindo agora seu terceiro mandato seguido.

O governo costuma afirmar que este é seu segundo mandato, a partir da nova Constituição implementada na gestão do presidente boliviano.

País com cerca de 10 milhões de habitantes, de maioria indígena, a Bolívia tem vivido tempos de estabilidade econômica, com inflação controlada e crescimento em torno dos 4%, segundo dados oficiais e privados.

As últimas pesquisas de opinião divulgadas no início deste mês de fevereiro indicaram que Evo e sua gestão teriam em torno de 60% de aprovação popular.

No entanto, analistas destacam que episódios negativos recentes podem refletir no resultado de domingo – casos da notícia sobre uma suposta ex-namorada do presidente, que seria ligada a uma empresa chinesa com contratos com o governo, e da morte de seis pessoas em um protesto, nesta semana, na municipalidade de El Alto, antigo reduto eleitoral de Evo, em La Paz.

A suposta ex-namorada – e um suposto filho que teriam tido juntos – dominou as redes sociais dos bolivianos nos últimos dias.

Evo reconheceu que teve um filho com a empresária Gabriela Zapata, em 2007, e que a criança teria falecido. “Essa poderia ser a primeira eleição na qual Evo não teria índices acima dos 50% ou 60% dos votos favoráveis”, disse à BBC Brasil o analista político José Luis Gálvez, do instituto Equipos Mori.

Segundo ele, antes mesmo desses episódios, pesquisa do instituto indicava um virtual empate entre o “sim” e o “não” em torno dos 40%, com cerca de 19% de indecisos.

“A maioria aprova a gestão de Evo, mas esse apoio pode não ser refletido no respaldo à mudança constitucional para que ele busque mais um mandato”, disse Galvez.

Para o pesquisador Roberto Laserna, do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social (CERES), o governo “transformou” a campanha do referendo em um “verdadeiro plebiscito” da sua gestão.

“A campanha do ‘sim’ envolveu claramente a figura do presidente e sua administração. E a campanha do ‘não’ se fixou mais na defesa no respeito às leis, a constituição já em vigor”, disse por telefone falando de Cochabamba.

Entenda o referendo de domingo nestes cinco pontos:

O que está em jogo no referendo?

A possibilidade ou não de Evo Morales disputar mais um mandato presidencial.

Se o “sim” vencer, abrindo caminho para a reforma constitucional, Evo, que assumiu a Presidência em 2006, disputaria novo cargo em 2019.

Para analistas, se o sim vencer, mesmo que apertado, o presidente terá também poder político e a ausência de opositores fortes para o restante do atual mandato.

“A situação será diferente se o ‘não’ vencer”, disse Laserna. “Muitos poderão interpretar que se está acabando um ciclo político.”

Qual a situação da Bolívia hoje?

Um dos países mais pobres da América do Sul, a Bolívia registrou nos últimos tempos avanços sociais atribuídos à gestão de Evo, segundo organismos como a Cepal, por exemplo.

A estabilidade da economia, com controle de gastos e aumento do consumo, também marca a gestão de Morales, segundo governistas e opositores.

No entanto, análises do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Trabalho (CEDLA), de La Paz, criticam a informalidade no mercado de trabalho e fato de os investimentos dependerem principalmente do setor público, com menor presença do setor privado na economia.

Como anda a economia?

Existe preocupação em relação aos efeitos da queda do preço internacional do petróleo e do gás na economia local. A Bolívia é um dos principais exportadores de gás da América do Sul.

No entanto, o ministro da Economia e Finanças Públicas, Luis Arce, afirma que a estabilidade econômica “não está sendo afetada” por essa conjuntura. Segundo ele, a Bolívia se preparou nos momentos de alta das commodities para dias como os atuais, “economizando e não expandindo os gastos”.

O presidente do Banco Central, Marcelo Zabalaga, disse, por sua vez que o período entre 2006 e 2015 (gestão Evo) foi “o mais próspero da Bolívia”.

Ele destacou a inflação média de cerca de 5% nesse período, o forte aumento dos níveis das reservas do Banco Central e o “crescimento econômico sustentável”.

Segundo analistas, os bolivianos “não percebem no bolso” possíveis efeitos da queda no preço do gás e da expectativa de possível desaceleração da economia a partir deste ano.

O que pode acontecer depois do referendo?

Analistas entendem que dependerá da diferença no resultado entre o “sim” e o “não” e onde o não poderá prevalecer.

“Se o ‘não’ vencer nos redutos eleitorais tradicionais de Evo e do MAS (Movimento ao Socialismo), sua base política, então a oposição poderá tentar capitalizar o resultado e voltar a ter protagonismo”, disse o analista Roberto Laserna.

José Luis Gálvez lembrou que se o ‘não’ vencer, Evo continuará sendo presidente até 2019, “o que significa certo grau de estabilidade” – ainda que indique uma rejeição a que ele se perpetue no cargo.

Se o “sim” vencer, entendem os analistas, Evo sairá fortalecido junto ao eleitorado e dentro de sua base política.

 

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SOBRE CURDOS E CONSTITUINTES

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A palavra Curdistão pode ser remetida à palavra suméria kurti que, há milhares de anos, significava algo parecido com “povo da montanha”. Desde então, a luta dos curdos pela sua existência atravessou um longo caminho até os dias atuais, quando vemos circulando pelo mundo imagens de mulheres curdas lutando nas montanhas com seus sorrisos e armas que se tornaram símbolos de resistência. Podemos dizer que a grande repercussão dessa luta hoje (assim como sua força e beleza) está ligada, dentre outros fatores, ao seu aspecto libertário. Diferente de uma ideia comum relacionada às lutas dos povos minoritários, o movimento de libertação curdo não busca construir um novo Estado. Atravessando a questão étnica, mas indo além dessa, o movimento apresenta uma proposta, que está sendo experimentada nos territórios liberados, de ruptura radical com a modernidade capitalista: o Confederalismo Democrático.

Atualmente, o povo curdo é um dos maiores povos sem Estado, com cerca de 30 milhões de pessoas concentradas, principalmente, na região do Curdistão, que abrange uma parcela territorial dos Estados da Síria, Iraque, Turquia e Irã, com quem muitos grupos estão em conflito há décadas.

Mais recentemente, os curdos também entraram em confronto com o Estado Islâmico (ISIS). São claras as tentativas de etnocídio e genocídio em relação ao povo curdo. Enquanto alguns árabes chamam os curdos de “árabes do Iêmen”, alguns turcos os denominam “turcos das montanhas”, expressando alguns dos mecanismos da tentativa de assimilação que sofre esse povo. Além disso, a região montanhosa onde vivem é uma das mais ricas em florestas e água de todo o Oriente Médio, o que tem chamado atenção de diversas potências estrangeiras.

Entretanto, os curdos existem e lutam… Atualmente, a perspectiva política que tem mais força na região está ligada ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – é principalmente dessa perspectiva que tratamos quando mencionamos o movimento curdo. O PKK foi fundado em 1978 na Turquia, sob orientação do marxismo-leninismo, começando um confronto de guerrilhas em 1984, que tinha como objetivo a libertação nacional, através da formação de um Estado Curdo independente. No final da década de 90, o movimento rompe com essa perspectiva e desenvolve a proposta do Confederalismo Democrático, sistematizada por Abdullah Öcalan de dentro da prisão. Essa proposta tem como influência os escritos do anarquista Murray Bookchin e a experiência do movimento zapatista que constrói toda uma vida baseada na autonomia em Chiapas, no México.

O movimento curdo passa a apontar para o estabelecimento dos Estados-nações, central no paradigma da modernidade capitalista, como um dos grandes pilares da opressão que sofrem, evidenciando a conexão causal entre essa opressão e a dominação global do sistema capitalista. Os Estados-nações se desenvolveriam através de todo tipo de monopólio (político, econômico, ideológico), tendo como base o sexismo e o nacionalismo. A escravidão da mulher seria a opressão mais profunda e disfarçada, enquanto o nacionalismo teria propiciado séculos de destruição em nome de uma sociedade unitária imaginária.

Diante disso, os curdos acreditam que a criação de um novo Estado só iria perpetuar opressões, ainda mais ao considerar a diversidade de povos que habitam o mesmo território na região do Curdistão.

O Confederalismo não pode ser pensado, então, como uma entidade monolítica homogênea, uma vez que ele é aberto a outros grupos, é flexível, multicultural, antimonopolista e orientado para o consenso.

Ele se estabelece por um amplo projeto visando a soberania econômica, social e política, assim como a criação de instituições necessárias para possibilitar à sociedade um autogoverno. As eleições perdem a importância em prol de um processo político dinâmico e contínuo baseado nas intervenções diretas do povo. A população deve estar envolvida em cada processo de debate e decisão.

Este modelo pode ser organizado por conselhos abertos, parlamentos locais e congressos gerais. Nesse sentido, não há uma forma única a ser estabelecida, a ideia, inclusive, é valorizar as experiências históricas da sociedade e sua herança coletiva, baseadas em clãs e tribos, em oposição às estruturas centralizadoras do Estado-nação. Os diferentes atores sociais formam unidades federativas, células germinais da democracia participativa, que podem se associar em novas confederações mais amplas. Ainda que o foco esteja no nível local, organizar o Confederalismo globalmente é importante para mudar radicalmente a sociedade.

Para garantir que esse processo de democratização possa se realizar, a autodefesa é fundamental. Diferente da militarização verticalizada típica dos Estados, as forças de segurança devem responder às decisões populares tomadas de baixo para cima e todos que participam da autodefesa frequentam cursos de resolução de conflitos não violenta e de teoria feminista. A ideia em médio prazo é que toda a população possa receber treinos de autodefesa, para que não seja necessário polícia. Além disso, as unidades militares elegem seus oficiais. Assim funcionam a Unidade de Proteção do Povo (YPG) e sua fração feminina, a Unidade de Proteção Feminina (YPJ).

Esta última está ligada a outro pilar do Confederalismo: o feminismo. É fundamental a ideia de que as mulheres organizadas podem gerenciar a si mesmas e, mais do que isso, sem a libertação da mulher é impossível pensar uma sociedade igualitária. A ecologia é outro pilar central: a proteção do meio ambiente, incompatível com o capitalismo, deve ser levada em consideração seriamente durante o processo de mudança social.

Apesar da guerra e dos confrontos constantes que assolam a região, a proposta do Confederalismo Democrático do povo curdo (que como vimos vai muito além dele) tem possibilitado uma série de experimentações. Cooperativas de trabalhos, terras coletivizadas, coletivos de mulheres, assembleias comunitárias, justiça restauradora substituindo o sistema de tribunal, reconstrução de cidades, criação de mecanismos horizontais de autodefesa, dentre muitas outras a serem apoiadas e mais bem conhecidas em outras partes do mundo.

 

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TRANSPARENCIA AINDA NAO E NADA

[texto original]A Prefeitura de São Paulo vai publicar na internet a relação com nome, metragem do lote e código do Imposto Territoral e Predial Urbano (IPTU) de todos os cerca de 3,3 milhões de imóveis da cidade. A relação estará no recém-lançado site GeoSampa, que reúne informações da cidade em um mapa georeferenciado.

Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), a decisão foi tomada após a Controladoria-Geral do Município, a Procuradoria-Geral do Município e a Secretaria Municipal de Finanças chegarem ao entendimento de que o cadastro público não deveria ser mantido em sigilo, como era feito até então. Havia entendimento de que os dados, que podem revelar o patrimônio dos cidadãos, era protegido por sigilo fiscal.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT)
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT)

“Esses dados já são públicos. Mas era preciso fazer buscas nos cartórios e pagar por isso”, disse o prefeito. “Isso foi discutido com toda a administração e chegou-se ao entendimento de que isso (o sigilo) era um obstáculo criado artificialmente”, completou.

A proposta é que os cidadãos possam ter acesso ao próprio cadastro, verificando, por exemplo, se a metragem lançada na base de dados, para fins de cálculo do IPTU, estejam corretos. Mas a abertura dos dados vai permitir também verificar se o dono do terreno de determinado imóvel, como um shopping, é a mesma pessoa ou empresa que se apresenta como dono.

“A ocultação de bens é uma das formas mais comuns de se investir recursos obtidos ilicitamente”, concluiu Haddad. A expectativa é que a medida iniba a lavagem de dinheiro com aquisição de imóveis dentro da capital paulista. São Paulo é a primeira cidade do País a adotar tal medida.

“É uma das ações que reforçam as mudanças para transparência na Secretaria de Finanças depois da crise gerada em 2013, quando a Máfia do Imposto Sobre Serviços (ISS) foi descoberta”, afirma o secretário da pasta, Rogério Ceron.

A ação, divulgada nesta quarta-feira, 9, foi planejada para marcar o Dia Internacioanl de Combate à Corrupção. Além dessa ação, a gestão Haddad divulgou a criação de um novo órgão, a Coordenadoria de Defesa do Usuário do Serviço Público Municipal (Condusp), para acompanhar queixas de cidadãos quanto à qualidade dos serviços prestados pela Prefeitura, e a criação de um manual de conduta para empresas que prestam serviços ou bens à Prefeitura.

O novo órgão deverá analisar as queixas recorrentes de postos de saúde ou escolas e propor termos de ajustamento com os gestores dos órgãos fiscalizados. Já o manual de conduta servirá para as próprias empresas fornecedoras, no caso de alguma denúncia de irregularidade, apresentar sua defesa – caso cumpra as regras.

 

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NOVAS MARIANAS

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Uma comissão do Senado pode votar, na tarde desta quarta (25/11), um projeto que fragiliza o principal instrumento para evitar desastres ambientais: o licenciamento ambiental. A Câmara também pode apreciar, nas próximas semanas, o novo Código de Mineração, que promete estimular como nunca a atividade no País, mas não traz salvaguardas que protejam efetivamente o meio ambiente e populações afetadas.

As duas votações podem acontecer poucos dias depois do rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco, que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), afetou dezenas de outros municípios entre Minas Gerais e Espírito Santo, lançou uma onda de lama ao longo do Rio Doce, praticamente destruindo seus ecossistemas, e agora deverá causar impactos ambientais graves na costa capixaba, naquela que já é considerada a maior tragédia ambiental do País. Denúncias dão conta de que o licenciamento ambiental da barragem deveria ter sido mais rigoroso. A Samarco pertence à Vale e à mineradora anglo-australiana BHP Billiton.

Onda de lama atravessa barragem em Baixo Guandu (ES)

Por enquanto, já foram registradas 12 mortes e 11 pessoas continuam desaparecidas. A onda de lama interrompeu o fornecimento de água de pelos menos 500 mil pessoas entre os dois estados. Ainda não se sabe toda a extensão dos danos, mas os custos de reparação devem passar do patamar de bilhões de reais. Não há previsão para a recuperação dos ecossistemas ao longo do rio.

A proposta que pode ser votada nesta quarta é o Projeto de Lei do Senado (PLS) 654/2015, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR). Ele cria um “rito sumário” para o licenciamento ambiental de empreendimentos que sejam considerados “estratégicos” pelo Poder Executivo federal ou estadual, por meio de decreto. A proposta estabelece uma licença ambiental única a ser concedida em torno de oito meses, sem previsão de audiências públicas. Poderiam ser classificados como “estratégicos” empreendimentos como extração de minério, estradas, ferrovias, aeroportos, hidrelétricas, portos e linhas de comunicação (veja projeto e emendas).

A tendência é que, se aprovado o projeto, teriam um licenciamento acelerado obras complexas com grandes impactos, justamente aquelas que especialistas e organizações da sociedade civil consideram que necessitam de processos de licenciamento mais cautelosos e eficazes.

“É um completo contrassenso que o Senado possa aprovar um projeto que pretende reduzir drasticamente a prevenção de danos socioambientais como os ocorridos após o rompimento da barragem da Samarco”, critica Maurício Guetta, advogado do ISA. “O caso de Mariana, a exemplo de outros tantos, deveria servir de lição para que o Congresso e o Poder Executivo aprimore o licenciamento ambiental, evitando a ocorrência de danos irreparáveis. Flexibilizá-lo será prejudicial a todos: meio ambiente, populações afetadas, governos e o próprio empresariado.”

O relator da matéria é o senador Blairo Maggi (PR-MT). O projeto está na Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional em caráter terminativo, ou seja, se aprovado segue diretamente para a Câmara sem passar pelo plenário do Senado. Os parlamentares podem, porém, aprovar um recurso para levar a proposta ao plenário. Essa comissão recebeu as propostas da chamada “Agenda Brasil”, iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que supostamente visaria a enfrentar a crise econômica.

As assessorias do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-S), e de Maggi responderam que os parlamentares não poderiam conceder entrevistas até o fechamento desta reportagem.

Código de Mineração

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), manifestou, há alguns dias, a intenção de levar o Projeto de Lei 37/2011, o novo Código de Mineração, diretamente ao plenário, atalhando sua tramitação (saiba mais). O parecer sobre a proposta ainda não foi oficialmente apresentado e discutido pelos deputados na Comissão Especial que o analisava.

Sob a justificativa de simplificar e liberalizar a burocracia relacionada à mineração, o relator, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), apresentou um parecer preliminar que aprofunda retrocessos para o meio ambiente e os direitos de comunidades indígenas e tradicionais impactadas pela atividade. Segundo Quintão, esse relatório teria sido elaborado junto com técnicos do Ministério de Minas e Energia e teria apoio do Planalto (leia mais). A assessoria do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), informou que ele só vai se pronunciar sobre o projeto quando for apresentado um relatório final.

Deputado federal Leonardo Quintão (PMDB – MG)

Quintão vem argumentando que sua proposta não reforça salvaguardas ambientais, sociais e trabalhistas porque já há legislações específicas que as garantiriam. Ele também afirma que o parecer assegura recursos para as comunidades afetadas por meio de verbas que serão destinadas aos municípios que abrigam empreendimentos de mineração. Sem explicitar e detalhar formas de compensação e proteção socioambientais, no entanto, o relatório não garante os direitos de populações específicas diretamente atingidas.

Depois do desastre de Mariana, ao invés de adiar a votação de seu parecer para reavaliá-lo, Quintão vem empenhando esforços para acelerar a tramitação da matéria. O deputado limitou-se a prometer algumas mudanças em seu relatório. O site do parlamentar afirma que ele irá incluir na proposta um “seguro antidanos” obrigatório para “cobrir prejuízos ao meio ambiente, às pessoas, à infraestrutura urbana e à economia local em caso de catástrofes”. Também promete estabelecer a exigência de que as mineradoras apresentem planos para o tratamento de resíduos de barragem que permitam sua reutilização (leia aqui).

Para Maurício Guetta, essas medidas são insuficientes e deixam de contemplar ações preventivas para evitar tragédias como a de Mariana. “Faz mais de dois anos que cobramos do relator alterações substanciais no texto, para que sejam incluídas medidas de prevenção de danos decorrentes das atividades minerárias e para que sejam garantidos os direitos das populações afetadas e dos trabalhadores. Mesmo após o desastre de Mariana, ele continua a ignorar as demandas apresentadas”, denuncia Guetta.

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POSTOS DE FRONTEIRA

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Una muestra de la obra de Ignacio Evangelista, Después de Schengen - Fronteras Europeas,

Una muestra de la obra de Ignacio Evangelista, Después de Schengen – Fronteras Europeas,

Los críticos con el Tratado de Schengen, y los partidarios del Grexit, harían muy bien en plantearse lo que significaría volver a tener fronteras. Porque, en vista de aquello en lo que se han convertido los pasos fronterizos europeos, no resultaría nada práctico volver a tener líneas divisorias vigiladas por policías y aduaneros. El trabajo del fotógrafo Ignacio Evangelista (Valencia, 1965) ilustra perfectamente el estado ruinoso en el que se encuentran los lugares que antes servían para presentar la documentación y hacer los eventuales registros a los vehículos antes de cambiar de país en Europa.

“Algunos de los puestos fronterizos están en ruinas, otros están medio abandonados y unos pocos se han reciclado para otros usos: ya sea para poner centros culturales, comisarías o cosas así. Pero estos casos son la minoría. De los que yo visité, no llegan ni al 10%”, dice a eldiario.es Evangelista, cuya muestra sobre las fronteras olvidadas del Viejo Continente se estrenó este viernes y podrá verse hasta el 17 de diciembre en las instalaciones en Berlín de la FundaciónMercator.

La muestra lleva por título Después de Schengen – Fronteras Europeas y en ella son protagonistas “unos lugares fantasmagóricos que ahora mismo están en un limbo espacio-temporal, porque no sirven para nada, son tierra de nadie”, cuenta el fotógrafo español afincado en Madrid.

Durante los últimos dos o tres años, y siempre que sus labores como fotógrafo profesional se lo permitían, Evangelista hacía la maleta y empaquetaba su cámara de placas Calumet para viajar en busca de puestos fronterizos que inmortalizar. Los ha visto de todos los tipos. “El estado de los puestos fronterizos, en realidad, depende de los países en los que se encuentren: en Alemania, o donde hay dinero, es normal ver renovadas las instalaciones, pero en países como los del este de Europa, con menos dinero, o en España y Portugal, se han dejado que se pudran”, afirma Evangelista.

Slavonice-Fratres, República Checa-Austria. Ignacio Evangelista

No siempre ha sido evidente dar con esas instalaciones fronterizas o con lo que queda de ellas. En muchos casos han desaparecido, pues las autoridades apuestan en ocasiones por derruirlas. Otros puestos fronterizos “están en mitad del campo, hasta el punto que en ocasiones eran simplemente una marca en el suelo”, asegura Ignacio.

“Recuerdo un puesto entre Polonia y la República Checa donde había una raya en el suelo y sólo había una barrera que se levantaba, pero únicamente se veían arbustos” y “en otros no había ni siquiera espacio para que pasaran coches, eran para ir en carro con caballos, en bici o andando”, agrega el artista.

A esos recónditos parajes de la geografía europea se ha desplazado este fotógrafo profesional con su pesado material de toma de imágenes de gran formato. “Lo llevaba todo en una maleta de mano de esas que puedes meter en la cabina de un avión, con la cámara, el trípode y las cajas con las placas de película”, explica Evangelista.

Elegir el lugar, esperar, disparar

“Con este tipo de cámaras de gran formato, donde los negativos tienen un tamaño de diez por doce centímetros, la manera de trabajar es totalmente distinta”, asegura. “Pasan quince o veinte minutos antes de poder hacer la primera fotografía, porque hay que elegir el lugar para disparar, sacar la cámara, montar el trípode, no es esto de llegar y disparar de un lado y de otro”, sino “que estás un rato mirando, eligiendo el sitio”, aclara.

El revelado de cada una de sus imágenes hechas con la Calumet cuesta entre cinco y seis euros. “Por cuestiones de economía, no puedes hacer 15 o 20 fotos de cada sitio”, subraya Evangelista, antes de recordar las ventajas de llevar un equipo tan costoso y difícilmente transportable: “El gran formato es lo que más calidad da, si quieres hacer grandes ampliaciones”. En la sala donde están sus “fronteras europeas”, las fotos son de metro y medio por metro con 25 centímetros.

Somport, España-Francia. Ignacio Evangelista.

Con esos tamaños, se puede percibir de forma inmejorable esa sensación del artista que bien puede servir de conclusión política tras ver en qué se han convertido los puestos fronterizos del espacio Schengen. “Yo me quedo de este trabajo con que la relación entre los gobiernos, el poder de los Estados, y los ciudadanos es muy desigual, y, en el fondo, es todo muy absurdo, porque hay un control acérrimo de las fronteras y, de repente, se decide que ya no hay fronteras”, afirma el artista. “Entonces, el problema que hay ahora en Ceuta y Melilla, o entre México y Estados Unidos: si en un futuro se dice de acabar con esas fronteras, toda esa gente que ha muerto tratando de cruzar, ¿para qué habrá servido?”, se pregunta Evangelista, quien recientemente gozó de una residencia artística en México para fotografiar el muro fronterizo de 1.100 kilómetros instalado por las autoridades estadounidenses en su frontera.

A Ignacio Evangelista un proyecto le ha llevado a otro, pero reconoce que ya de niño le apasionaba la cartografía. “De pequeño me llamaban mucho la atención los mapas y, comparando las fronteras de Europa con las de África, me decía, ‘qué listos los africanos que han dividido tan claramente sus países, y los europeos, qué tontos y qué rebuscados para hacer sus fronteras'”, recuerda el fotógrafo. Hoy, ya sea por la eventual salida de Europa de Grecia o por el auge de la eurofobia en países como Francia, a los líderes continentales les tienta volver a convertir en útiles esas complicadas líneas divisorias. Pero desde hace años, hay hasta niños en Europa que consideran nuestras fronteras una tontería.